quarta-feira, julho 12, 2006

Dirceu não revela o que foi fazer na Bolívia


RUBENS VALENTE da Folha de S.Paulo

Em nota divulgada ontem, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse ter desempenhado "atividades profissionais" na viagem que fez entre 23 e 24 de abril último a La Paz, na Bolívia, mas não explicou para quem trabalhava e qual o objetivo da viagem. Dirceu revelou ter feito outras viagens "de caráter profissional" para os Estados Unidos e o México --também sem revelar os clientes.

Nota do Blog: Alguém duvida que ele trabalha com o respaldo do governo?

A Folha revelou ontem que, em La Paz, Dirceu manteve encontros com o presidente Evo Morales e com parlamentares da oposição para discutir a crise dos combustíveis --dias depois, em 1º de maio, Morales decretaria a nacionalização do gás e do petróleo bolivianos.

Dirceu confirmou a viagem, mas negou o encontro com o presidente boliviano. A reportagem fez cinco perguntas por escrito ao ex-ministro, mas não obteve resposta.

Dirceu viajou num jatinho Citation 7 registrado em nome da siderúrgica MMX, de Eike Batista, que teve a construção de uma siderúrgica em Puerto Quijaro, perto da fronteira com o Brasil, barrada por Morales sob a acusação de desrespeito à legislação ambiental. A licença para a operação da siderúrgica foi recusada em março.

A reportagem apurou que Dirceu se reuniu no Rio com Batista há cerca de três meses --informação não confirmada nem negada pela assessoria deste. Após ter dito, anteontem, que o jatinho que transportou Dirceu estava "arrendado", a siderúrgica EBX, controladora da MMX, disse ser a responsável pelo avião. A exemplo de Dirceu, também não explicou se o ex-ministro é ou foi um contratado da siderúrgica.

Pela manhã, a assessoria informou que o avião havia sido "emprestado", mas não especificou a quem. No final da tarde, a EBX disse que não se manifestaria mais sobre o assunto.

O jatinho, de prefixo PT-OVU, chegou a La Paz no dia 23 e retornou a São Paulo em 24 de abril. No dia 25, Eike Batista anunciou que seu grupo deixaria a Bolívia. Ele estimou um prejuízo de US$ 20 milhões.

Ex-marido de Luma de Oliveira, construiu em 2002 uma termoelétrica no Ceará que ficou conhecida como "Termoluma". No governo Lula, a usina foi adquirida pela Petrobras por cerca de US$ 137 milhões.

Desde que deixou o governo, em 16 de junho de 2005, Dirceu atua como "consultor e advogado", por meio de uma empresa chamada "José Dirceu & Associados". A assessoria de Dirceu disse que a natureza de seu trabalho é "assunto privado".

Em São Paulo, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, negou que Dirceu tenha negociado com a Bolívia em nome do governo. "A relação com os bolivianos é feita por meio de canais diplomáticos, do Itamaraty, do Ministério das Minas e Energia e da Petrobras, no que se refere à questão do gás."

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