De volta ao início?
VEJA (12/07/06): Os Correios, onde tudo começou, tornam a ser loteados entre políticos. Para quê?
Diante do escândalo de corrupção que desarticulou seu governo, o presidente Lula sempre se comportou como se não soubesse de nada. Na semana passada, ficou a impressão de que, além de não saber de nada, Lula também não aprendeu nada. Na quinta-feira, o Diário Oficial da União publicou a nomeação de uns apaniguados políticos para o comando dos Correios, estatal que serviu de epicentro para o escândalo. Saiu dos Correios a célebre fita de vídeo em que o funcionário Maurício Marinho embolsava uma propina de 3.000 reais e informava que agia como um arrecadador financeiro do PTB de Roberto Jefferson – que, ao ser desmascarado, resolveu denunciar o mensalão. O caso sangrou o governo Lula. Quando VEJA divulgou as imagens da propina desencadeando o escândalo, a direção dos Correios era dividida entre três partidos – PT, PMDB e PTB. Todos foram demitidos e, desde então, o comando da estatal vinha sendo integrado apenas por funcionários e técnicos de carreira.
Agora, o presidente Lula resolveu demitir os técnicos e entregar tudo de volta às mãos dos indicados do PMDB, desprezando o ensinamento histórico de que boa parte dos políticos só se interessa em ter cargos públicos para usá-los em extorsão e trambicagens diversas. No caso dos Correios, além da experiência recente, os números são apetitosos. A estatal é gigante, tem 110.000 empregados, fatura mais de 8,6 bilhões de reais, investe 500 milhões de reais por ano e ainda dispõe de 90 milhões de reais de verba publicitária. Tudo isso, agora, ficará sob o comando dos peemedebistas. Na semana passada, saiu a nomeação do novo presidente e de três diretores. Nesta semana, deve ser publicada a nomeação de outros três diretores. O presente de Lula ao PMDB é uma retribuição à ala governista do partido, liderada por Renan Calheiros e José Sarney, que evitou o lançamento de um candidato peemedebista à Presidência da República e, assim, facilitou a vida eleitoral de Lula.
Um dos líderes da barganha, o senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima, acha que não há risco de repetir o passado. Isso porque, diz ele, agora os Correios terão "uniformidade de ação partidária". Traduzindo: só o PMDB fará nomeações para os Correios e não haverá, portanto, a divisão partidária de antes. O argumento é apenas uma enganação, pois parte do princípio – equivocado – de que a roubalheira nos Correios era um problema político-partidário, quando era um problema de corrupção. E ainda pretende convencer a platéia de que o pessoal do PMDB, este, sim, não se mete em maracutaias. Só para lembrar: as indicações da semana passada foram feitas pelos peemedebistas Romero Jucá (acusado de usar fazendas-fantasmas como garantia de empréstimo em banco público), Ney Suassuna (agora suspeito de envolvimento com a máfia dos sanguessugas) e Luiz Otavio (que pegou empréstimos do BNDES para construir balsas que não saíram do papel – e nunca devolveu o dinheiro). Só gente de primeira.
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