Pesquisas mostram que Alckmin está vivo e que Lula pode ter batido no teto
Petista está muito à frente, mas overdose de sua imagem é fator de risco
A grande mensagem das pesquisas do Vox Populi e Datafolha recém-divulgadas é que o candidato tucano Geraldo Alckmin, da coligação PSDB-PFL, tem chance de ganhar terreno e emparelhar com Lula, ainda franco favorito a se reeleger já em primeiro turno, mas que começa a sugerir que talvez tenha encontrado o seu teto eleitoral.
Se no momento de sua exposição máxima na mídia antes de ter de se adequar à legislação eleitoral, que impede, embora na prática não tenha como coibir, a mistura de suas funções na Presidência com a de candidato à sucessão, ele já desacelera o ritmo de crescimento, daqui para frente - sem condições de distribuir bondades à custa de canetadas e malhado por todos os demais candidatos -, lhe será mais difícil manter, quanto mais expandir, o estoque de intenções de voto acumulado quando só ele aparecia em evidência.
Não é à toa que Lula se queixe das restrições impostas pela lei a que se finja de presidente quando, na verdade, faz proselitismo de sua candidatura, como passou praticamente todo o mandato: em clima de campanha, insuflando o eleitorado contra a administração que o antecedeu, anunciando programas com benefícios palpáveis a grupos sociais e praticando o auto-elogio, conforme o bordão narcisista do “nunca antes...”. Ou: “Governo algum fez mais que o meu”.
Objetivamente, Lula abriu uma larga vantagem nas regiões Nordeste e Norte, especialmente entre os eleitores mais sensíveis ao efeito do aumento do poder aquisitivo graças à renda do Bolsa Família, os reajustes reais do salário mínimo e o crédito consignado. Em todas as outras regiões, nas quais tais ações influenciam menos o voto, Lula também está à frente, mas sua distância de Alckmin é menor.
Dependendo da qualidade de comunicação da campanha do tucano, no nivel propositivo e na capacidade de persuasão de que fará melhor o que haja de mais valorizado no governo Lula, ele poderá crescer e superar suas grandes fraquezas: ser pouco conhecido pelo eleitor e desprovido do carisma de Lula e da arte da sedução.
Faceta gerentão
Se colar a faceta gerentão de Alckmin, encarregando-se seu núcleo de apoio de lembrar os desvios éticos dos ex-dirigentes do PT e as contradições do governo, a dupla PSDB-PFL pode ansiar um segundo turno. Mas isso está longe de acontecer à luz do que as pesquisas recentes indicam.
Lula tem muitos atributos de convencimento ainda para exibir, embora venha tratando o principal deles como coisa trivial: a estabilidade da inflação, o grande motivo da sensação de bem estar do eleitor, sobretudo da base da pirâmidade de renda.
Overdose de imagem
O que Lula deveria considerar como fator de risco em sua campanha é a overdose de suas aparições. Não passa um dia sem que esteja lá na TV, com sua voz rouca, pontificando sobre tudo, ora em tom de denúncia de inimigos ocultos, ora como o paizão dos desvalidos. É duvidoso que esta teatralização, levado aos excessos do período de campanha, não comece a incomodar, como aqueles anúncios reprisados de lojas de varejo, barulhentos e frenéticos.
Também é temerária a liderança nas pesquisas, se não diminuir sua desvantagem junto aos setores de classe média - minoritários no voto, mas formadores de opinião. Foram os votos dos segmentos médios da sociedade que fizeram diferença em 2002, mas, depois de eleito, Lula lhes deu as costas.
Pegue-se o caso do funcionalismo, por exemplo: só na undécima hora afagou estas categorias, que são em boa parte de renda média e alta. Maior oportunismo não há.
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