segunda-feira, julho 31, 2006

Lula não sabe quando atua como candidato

Última Instância

Não se poderia negar que o presidente Lula tem momentos em que demonstra absoluta sinceridade no que diz em público. Também não se pode afirmar se isso ocorre intencionalmente, ou se poderia ser um deslize, provocado por um descuido, ou decorrente de fatores externos.

Não se sabe se os arroubos acontecem em momentos de lucidez, como uma fuga às rédeas impostas pelos assessores, como uma espécie de rebeldia às alegorias ensaiadas pelos marqueteiros, ou se seriam devaneios inspirados em eflúvios que o transportam às origens de homem simples que um dia foi.

Um exemplo disso ocorreu no sábado, quando em visita ao sul do país, o presidente despoletou, dizendo, como está no jornal “O Globo” de ontem que:

-“Ser presidente da República e ser candidato é uma coisa complicada, porque nunca sei quando sou candidato e quando sou presidente”.

Aliás, essa miscelânea no modo de agir, a mistura entre o público e o privado, o uso do cargo em proveito da candidatura ocorreu, por exemplo, como noticiou no sábado passado o jornal “A Folha de S.Paulo”, quando o presidente lastreou com dinheiro da União o caminho que deveria trilhar no sul do País, como candidato:

‘Um dia antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajar em campanha pelo sul do país, o governo federal anunciou ontem a liberação de recursos que beneficiarão os três Estados da região. Serão injetados R$ 600 milhões nos setores de movelaria, máquinas e implementos agrícolas”.


Não houve sequer a preocupação em mascarar a operação, dizendo, por exemplo, que se tratava da entrega de recursos orçamentos já programada, ou que as verbas se destinavam ao setor público. Veja-se o que diz o jornal:

“A Folha apurou que, na quinta-feira, o próprio Lula solicitou ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que viajasse às pressas para Florianópolis para anunciar a liberação de verbas”.


Fica difícil até invocar uma suposta coincidência entre a liberação das verbas e a viagem do candidato, quando se sabe, como diz, ainda, aquele jornal, que:

“O pior desempenho eleitoral de Lula é na região Sul, onde está empatado com o candidato do PSDB Geraldo Alckmin”.


O mais sério é a forma como os apaniguados do presidente procuram justificar a incrível sincronia entre a liberação de recursos públicos em benefício do setor privado, exatamente na região onde a candidatura tem menor penetração e prestígio.

Um exemplo da absoluta falta de princípios está, ainda, no jornal “Folha de São Paulo”, de sábado passado, onde consta:

- O anúncio de liberação de verbas, na avaliação de Tarso Genro, "é absolutamente legítimo". "A separação do presidente do candidato é jurídica e formal. Não existe na esfera da política", justificou o ministro.

O despautério e a falta de respeito são tantos, que o próprio ministro Tarso arremata:

“Não há nenhuma determinação legal, nem ética, nem moral que impeça a liberação de recursos. Esse procedimento só deve ser evitado, quando se tratar de uma "medida artificial", para uma região que não precisa de recursos. Nesse caso, observa, "é errado e condenável".

Não se imagine que o ministro da coordenação política, o gaúcho Tarso Genro seja um semi-alfabetizado, um inimputável. Pelo contrário, é bacharel em direito, autor de mais de uma dezena de livros, ex-prefeito de Porto Alegre e ex-ministro da Educação no atual governo.

Apesar disso, procura lastrear de respaldo a mistura entre a coisa pública e os interesses privados do candidato, afirmando inexistir impedimento legal.

Admite-se que não existe, expressamente, uma lei ou outra regra legal, especificando a vedação quanto ao presidente da República, que coincidentemente é candidato à reeleição, de liberar recursos públicos para qualquer Estado da Federação.

No entanto, daí até a ousadia de afirmar não existir impedimento ético ou moral, no mínimo, é pretender confirmar o que já se sabe.

Desde os escândalos do mensalão e Caixa 2 que o presidente Lula disse ser coisa normal, efetivamente, ética e moral são princípios que o governo se esmera em desconhecer, preferindo soterrar nas profundezas do inferno.

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