quarta-feira, agosto 09, 2006

Escuta telefônica indica interesse do PCC prejudicar o PSDB

Terra Magazine
O presidente da República, Lula, disse hoje que o secretário de segurança de São Paulo, Saulo de Castro, "deveria ser mais sensato ao abrir a boca". O secretário, nos últimos dias, tem insinuado supostas ligações do PT com o crime organizado (leia-se PCC). O mais importante, nessa troca de chumbo entre setores do PSDB e do governo federal, é o que não está sendo dito. E que Terra Magazine revela nas linhas abaixo: são trechos de uma conversa entre dois criminosos ligados ao PCC em que um deles diz ser portador de uma ordem para "matar politicos" de uma "câmera municipal" e "PSDB".

Terra Magazine transcreve ipsis literis, inclusive com erros gramaticais, o que está escrito no documento "confidencial" que autoridades do governo de São Paulo e do governo federal conhecem há quase um mês:

HNI2- Irmão, vo coloca um crédito nesse novo número aqui. Então eu vou mandar uma mensagem para vocês ai, ta?
HNI1- O irmão, irmão tem alguma cobrada aqui?
HNI2- Não, não tem não.
HNI1- Se quê, irmão?
HNI2- Fala aí.
HNI1- É, 11,3735-(...)49,
HNI2- Irmão, o irmão tá ciente já do salve (NR: "ordem", no jargão do crime) que chegou, irmão?
HNI1- Não, não.
HNI2- Não?
HNI1- Não.
HNI2- Mas dá pra o irmão pegar agora aí, irmão?
HNI1- Passa ele inteiro para mim aí, cara.
HNI1- Passa ele, passa ele, ai na hora que eu pá...tô no carro aqui agora(...) para pelo menos eu ter ciência do que é, e é o seguinte...
HNI2- tá bom, irmão, vou lê aqui pro irmão aqui, tá bom? Mandar matar todos os políticos da câmera municipal do (...) e PSDB, incendiá concessionárias de carros, caixas eletrônicas, cinemas e supermercados grandes. Matar todos os funcionários em geral do Estado de São Paulo. Colocar faixa opressão carcerária.
HNI1- Certo.
HNI2- Entendeu, irmão?
HNI1- Em cinco minutos eu tô na região(...) E o ...jão?
HNI2- Ó irmão, ele foi dormir agora, irmão. Desde ontem ele ficou acordado, ele foi dormir agora, irmão.
HNI1- (...)geral.
HNI2- Isso...pro interior geral, entendeu irmão?Ele já fechou aqui ó, Campinas já passou ontem com RB (?) na linha. Entendeu irmão...
HNI2- Agora falta aquela região lá do outro lá, aquela regiãozinha ali, entendeu irmão.
HNI1- Certo, certo, certo...
HNI2- Mais próximo ali do zero zero(...) entendeu irmão?
HNI1- Certo?
HNI2- As outras, o irmão já espalhou tudo, ó.
HNI1- E nos outros do interior (...) já veio?
HNI2- Já, já, já ta vindo alguns retorno já, entendeu?
HNI1- Tá bom.
HNI2- Um beijão irmão...

O documento até agora não revelado ao público é o pano de fundo, embasa essa escalada verbal e a troca de acusações entre setores do governo paulista, do PSDB, e do governo federal desde 12 de julho.

Classificado como "confidencial", no setor de Inteligência em São Paulo - onde Terra Magazine obteve uma cópia - e "ultra confidencial" na área de Inteligência em Brasília, o documento contém porções da conversa grampeada entre dois "homens não identificados", e por isso mesmo chamados de "HNI 1" e "HNI 2". Homens do PCC.

A conversa foi grampeada pela polícia de São Paulo às vésperas de, coincidência ou não, o assunto vir indiretamente a público. Dia 12 de julho a conversa estava transcrita e a secretaria de segurança de São Paulo já tinha ciência do teor.

Sem que jamais o documento fosse citado naquele dia, ou nas trocas de acusações desde então, no mesmo 12 de julho o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) insinuou, pela primeira vez, supostas ligações entre o PT e o PCC.

No dia seguinte, 13 de julho, o candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, José Serra, avançou. Questionado sobre as declarações de Bornhausen afirmou existirem "indícios" de ligação entre o PT e o PCC.

O candidato à presidência, Geraldo Alckmin, perguntado, contou ter identificado "coisas estranhas" nas ações do PCC. Foi, então, bem mais evasivo do que na entrevista de anteontem ao Jornal Nacional. A William Bonner e Fátima Bernardes disse perceber sinais de "guerrilha" na ações do PCC. Isso depois de ter afirmado e reafirmado nos últimos dias estranhar a "coincidência" entre as ações e o período eleitoral.

Na única manifestação, indireta, sobre temas do gênero o governador de São Paulo, Cláudio Lembo, afirmou ser contrário ao uso de informações "levianas" com objetivo político. Está combinado para as próximas 48 horas um encontro entre o presidente Lula e o governador Lembo. O assunto é a segurança pública em São Paulo.

Nenhum comentário: