sábado, setembro 30, 2006

Veja - André Petry

Vem aí um massacre?

Avelar comanda a investigação que detonou o trambique do dossiê preparado por dirigentes do PT. Ele tem dito que está com medo. Medo de sofrer aquela perseguição sórdida que vitimou o caseiro. Medo"

Quando se sentiu acuado, o governo do PT caiu numa implacável perseguição contra o caseiro que ousou denunciar um ministro. A história é sabida: violaram seu sigilo bancário e lançaram uma campanha para desmoralizá-lo. Agora, só a vigilância da sociedade pode impedir que um massacre parecido aconteça com o procurador Mário Lúcio Avelar.

Avelar comanda a investigação que detonou o trambique do dossiê preparado por dirigentes do PT. Na semana passada, ainda teve a ousadia de pedir a prisão de seis petistas envolvidos no caso, entre eles o segurança e o churrasqueiro de Lula. Na quarta-feira, em entrevista à TV Record, o presidente, questionado sobre o impacto que as prisões teriam sobre sua campanha, mandou um recado assustadoramente explícito ao procurador. "Às vezes me pergunto se o estrago será para o candidato Lula ou para quem está pedindo as prisões dessas pessoas."

Já havia, àquela altura, uma operação de estrago em curso. A Polícia Federal, atolada nos mistérios da burocracia, só recebeu o pedido de prisão dos petistas na madrugada de terça-feira, quando a lei eleitoral já proibia prisões que não fossem em flagrante. Em vez de ficar na muda, a PF vazou os pedidos de prisão que não poderia cumprir. Fez um serviço duplo: alertou a companheirada para providenciar habeas corpus e fez parecer que o procurador era um palhaço, detalhe que não escapou ao presidente na entrevista. "A pessoa que pediu a prisão sabe que durante esses dias de eleição as pessoas não podem ser presas", disse Lula.

Mário Lúcio Avelar, 40 anos, é procurador há dez anos. Já prestou muito serviço relevante ao país. Comandou a operação que flagrou 1,3 milhão de reais em dinheiro vivo no bunker de Roseana Sarney, estilhaçando sua pretensão presidencial. Também comandou a investigação sobre o desfalque monumental da Sudam, que acabou colocando um par de algemas em Jader Barbalho – de quem, hoje, Lula beija a mão e ouve conselhos políticos. Coube ainda ao procurador implodir o esquema dos sanguessugas cujos desdobramentos o levaram à situação mais temerária de sua carreira: meter-se com o pessoal do PT.

Aos amigos, o procurador tem dito que está com medo. Medo de sofrer uma campanha de desmoralização. Medo daquela perseguição sórdida que vitimou o caseiro. Medo de vergar sob o peso do Leviatã inescrupuloso. Medo de ser atingido pela bala perdida da orgia sindical que os petistas promovem ao confundir partido e Estado. Medo.

Ele é solteiro, não tem filhos e trabalha catorze horas por dia. Concentrado no trabalho, esquece-se da vida pessoal. Nunca sabe onde estão suas chaves, a carteira, os documentos. Dá ordens a sua empregada doméstica, esquece o que disse e reclama de algo que não pediu. Sua penúltima empregada doméstica demitiu-se depois de uma semana de trabalho. A atual, que está com ele há um ano, já avisou que vai embora. Ela anda com medo de sair na rua na companhia do patrão. "Ele tem segurança, mas nunca se sabe, não é?", diz ela. "É que tem muita gente que não gosta do doutor Mário."

Santa sabedoria popular.

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