Veja - André Petry
"Quando o eleitor percebe que está sendo vítima de manipulação, que o governante é um enganador, levanta-se – e usa as urnas para mandar seu recado. Num bordel, isso não existe"
Em março de 2004, faltando poucos dias para a eleição na Espanha, aconteceu um terrível atentado que matou 191 pessoas em Madri. Logo o governo conservador de José María Aznar tentou manipular o episódio eleitoralmente – já sabia que as bombas eram obra do terrorismo islâmico, mas mesmo assim difundiu a falsa informação de que eram coisa de terroristas bascos. Achava que, sendo o atentado obra dos separatistas bascos, seu rival, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, sofreria prejuízos eleitorais. Antes do atentado, as pesquisas, inclusive, davam vantagem aos partidários de Aznar. O mundo lhe parecia perfeito. Mas a tática de ludibriar o eleitorado espanhol revelou-se um rombo pela culatra: os espanhóis descobriram a manobra e viraram as pesquisas. Zapatero foi eleito. Está no poder até hoje.
O episódio serve para mostrar a diferença entre um país e um bordel. Um país é assim: quando seu eleitorado percebe que está sendo vítima de manipulação, quando tem evidências de que o governante é um enganador, levanta-se – e usa as urnas para mandar seu recado. Num bordel, isso não existe.
O escândalo do dossiê é uma excelente oportunidade para o eleitorado brasileiro mostrar que vive num país. Nem precisa virar a eleição. Basta que, com seu voto, provoque a realização de um segundo turno na eleição presidencial. Basta que os eleitores envergonhados, aquela massa com pleno acesso à informação que vota em Lula mas não conta a ninguém, façam uma concessão ao tempo e uma homenagem ao debate. A esta altura, é o mínimo que um país, um país de verdade, poderia fazer.
Isso não significa que Lula não possa ser reeleito. Pelas regras do jogo, é claro que pode, desde que tenha mais votos que seu adversário. Talvez até venha mesmo a ser reeleito, a julgar pelo que informam as pesquisas. A questão é que um segundo turno, mesmo que não mude o resultado final da eleição, mesmo que acabe dando vitória a Lula e sacramentando a derrota de Geraldo Alckmin, mesmo assim, ajudaria a deixar o Brasil mais parecido com um país decente, no qual a sociedade pergunta e o candidato responde.
O segundo turno é entre dois candidatos e, nessas condições, fica mais difícil para qualquer um deles negar-se aos debates na televisão. Assim, vira uma chance de diálogo com o país: o presidente poderia explicar muitas coisas do passado e algumas coisas do presente. Se quisesse, numa resposta só, falar do passado e do presente, poderia explicar por que todo escândalo produzido pelo gangsterismo petista sempre chega às vizinhanças de seu gabinete no Palácio do Planalto. Por quê?
O segundo turno ainda tem a vantagem de evitar o triunfo da arrogância. Resolvendo a parada já no próximo domingo, Lula talvez se sinta revigorado para retomar a defesa da tese de que tudo – o mensalão, os bingos, o lixo, o caseiro, as cartilhas, o dossiê... – não passou de conspirata da elite.
O Brasil ganharia se fizesse um domingo espanhol.
Em março de 2004, faltando poucos dias para a eleição na Espanha, aconteceu um terrível atentado que matou 191 pessoas em Madri. Logo o governo conservador de José María Aznar tentou manipular o episódio eleitoralmente – já sabia que as bombas eram obra do terrorismo islâmico, mas mesmo assim difundiu a falsa informação de que eram coisa de terroristas bascos. Achava que, sendo o atentado obra dos separatistas bascos, seu rival, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, sofreria prejuízos eleitorais. Antes do atentado, as pesquisas, inclusive, davam vantagem aos partidários de Aznar. O mundo lhe parecia perfeito. Mas a tática de ludibriar o eleitorado espanhol revelou-se um rombo pela culatra: os espanhóis descobriram a manobra e viraram as pesquisas. Zapatero foi eleito. Está no poder até hoje.
O episódio serve para mostrar a diferença entre um país e um bordel. Um país é assim: quando seu eleitorado percebe que está sendo vítima de manipulação, quando tem evidências de que o governante é um enganador, levanta-se – e usa as urnas para mandar seu recado. Num bordel, isso não existe.
O escândalo do dossiê é uma excelente oportunidade para o eleitorado brasileiro mostrar que vive num país. Nem precisa virar a eleição. Basta que, com seu voto, provoque a realização de um segundo turno na eleição presidencial. Basta que os eleitores envergonhados, aquela massa com pleno acesso à informação que vota em Lula mas não conta a ninguém, façam uma concessão ao tempo e uma homenagem ao debate. A esta altura, é o mínimo que um país, um país de verdade, poderia fazer.
Isso não significa que Lula não possa ser reeleito. Pelas regras do jogo, é claro que pode, desde que tenha mais votos que seu adversário. Talvez até venha mesmo a ser reeleito, a julgar pelo que informam as pesquisas. A questão é que um segundo turno, mesmo que não mude o resultado final da eleição, mesmo que acabe dando vitória a Lula e sacramentando a derrota de Geraldo Alckmin, mesmo assim, ajudaria a deixar o Brasil mais parecido com um país decente, no qual a sociedade pergunta e o candidato responde.
O segundo turno é entre dois candidatos e, nessas condições, fica mais difícil para qualquer um deles negar-se aos debates na televisão. Assim, vira uma chance de diálogo com o país: o presidente poderia explicar muitas coisas do passado e algumas coisas do presente. Se quisesse, numa resposta só, falar do passado e do presente, poderia explicar por que todo escândalo produzido pelo gangsterismo petista sempre chega às vizinhanças de seu gabinete no Palácio do Planalto. Por quê?
O segundo turno ainda tem a vantagem de evitar o triunfo da arrogância. Resolvendo a parada já no próximo domingo, Lula talvez se sinta revigorado para retomar a defesa da tese de que tudo – o mensalão, os bingos, o lixo, o caseiro, as cartilhas, o dossiê... – não passou de conspirata da elite.
O Brasil ganharia se fizesse um domingo espanhol.
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