Por que Lula não levou
Estadão.com.br
O presidente Lula só tem a culpar a si mesmo e ao seu partido pela derrota de domingo. Derrota, sim. Não há outro nome a dar para um resultado que vaporizou mais de meio ano de previsões baseadas em pesquisas que até a terceira semana de setembro davam como líquida e certa a reeleição em primeiro turno. Além disso, não apenas Lula não chegou lá, mas, numa arrancada final surpreendente, Geraldo Alckmin obteve nas urnas mais do lhe davam as mesmas sondagens recentes que já não permitiam dizer se a sucessão se resolveria em uma ou duas disputas. Ao começar a última volta do circuito, era quase geral a certeza de que o ex-governador paulista não conseguiria forçar a realização do tira-teima de 29 de outubro pela quase absoluta impossibilidade de transferir para si uma parcela dos votos lulistas tidos como inamovíveis. Pois foi o que aconteceu: comparando as derradeiras prévias com os fatos consumados de anteontem, vê-se que, em duas semanas, algo como 5 milhões de sufrágios mudaram de lado.
Mudaram, principalmente, no Brasil que é de desejar para todos os brasileiros - o menos distante das sociedades prósperas, educadas e modernas do mundo contemporâneo. Nos oito Estados com os melhores indicadores sociais, conforme o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, Alckmin só não venceu no Rio de Janeiro. E em nenhuma parte Lula chegou na frente com tão esmagadora vantagem como no Amazonas (12º mais baixo IDH do País) e no Maranhão (27º e último). Em resumo, pode-se dizer que Alckmin ganhou no Brasil que sustenta o governo federal e perdeu no Brasil que é sustentado pelo governo federal. No eleitorado do Brasil desenvolvido calaram fundo os dois eventos singulares que ao fim e ao cabo privaram o presidente do êxito definitivo que lhe parecia plenamente assegurado. Foram a sua ausência no debate da Rede Globo e o aparecimento na mídia das fotos do dinheiro que serviria para comprar o suposto dossiê antitucano, que a todo custo o Planalto tentou esconder.
No primeiro caso, Lula foi punido pela soberba. Contra o conselho dos mais próximos interlocutores, ele decidiu não enfrentar os seus adversários no grande momento da competição eleitoral. Confiando cegamente que, agisse como agisse, a maioria absoluta dos votos não lhe faltaria, ele subestimou o impacto da imagem da cadeira vazia, sobretudo nos telejornais do dia seguinte. Diziam os gregos que os deuses cegam aqueles a quem querem destruir. Mas a cegueira de Lula advém do fato de ele não conhecer os brasileiros tanto quanto imagina, notadamente os que não se deixam enganar pela sua retórica primária. Mesmo entre os seus correligionários e aliados, decerto não foram raros os que se decepcionaram com a sua recusa em participar de um evento político que a sociedade inteira considera essencial. A cadeira vazia simbolizou, assim, a arrogância que o fez garantir que iria “matar” a eleição domingo.
No segundo caso, Lula foi atingido pela notória propensão de seus companheiros do PT para a delinqüência política. Nada tendo aprendido com o mensalão, talvez porque poucos pagaram pelo crime e o presidente recobrou a popularidade que parecia perdida em fins do ano passado, a “sofisticada organização criminosa” petista imaginou que também sairia impune do golpe sujo contra o ex-ministro da Saúde e candidato ao governo paulista, José Serra, que armou em conluio com os chefes da máfia dos sanguessugas. Revelada a torpeza, Lula tentou em vão controlar os danos. Cobriu de impropérios os seus autores em público e tratou de impedir, nos bastidores, a veiculação das fotos da prova viva do escândalo. O fracasso da operação-abafa reavivou para muitos a já quase apagada memória do mensalão - ajudando a quebrar a safra reeleitoral do presidente. Agora, no que depender da oposição, a baixaria continuará assombrando a sua campanha até a enésima hora.
Um dos critérios para avaliar a robustez de uma democracia é a incerteza dos resultados eleitorais. A incerteza atesta a independência do eleitor e a diversidade de questões que ele leva em conta ao votar - geradora de surpresas, como o triunfo do petista Jaques Wagner na Bahia, em pleno feudo carlista, e a vitória de Yeda Crusius, com a exclusão do governador Germano Rigotto do segundo turno no Rio Grande do Sul. A cada eleição, o eleitorado dá provas de amadurecimento. Quanto mais vezes for chamado a se pronunciar, mais ele tenderá a usar a cabeça no dia D da digitação.
O presidente Lula só tem a culpar a si mesmo e ao seu partido pela derrota de domingo. Derrota, sim. Não há outro nome a dar para um resultado que vaporizou mais de meio ano de previsões baseadas em pesquisas que até a terceira semana de setembro davam como líquida e certa a reeleição em primeiro turno. Além disso, não apenas Lula não chegou lá, mas, numa arrancada final surpreendente, Geraldo Alckmin obteve nas urnas mais do lhe davam as mesmas sondagens recentes que já não permitiam dizer se a sucessão se resolveria em uma ou duas disputas. Ao começar a última volta do circuito, era quase geral a certeza de que o ex-governador paulista não conseguiria forçar a realização do tira-teima de 29 de outubro pela quase absoluta impossibilidade de transferir para si uma parcela dos votos lulistas tidos como inamovíveis. Pois foi o que aconteceu: comparando as derradeiras prévias com os fatos consumados de anteontem, vê-se que, em duas semanas, algo como 5 milhões de sufrágios mudaram de lado.
Mudaram, principalmente, no Brasil que é de desejar para todos os brasileiros - o menos distante das sociedades prósperas, educadas e modernas do mundo contemporâneo. Nos oito Estados com os melhores indicadores sociais, conforme o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, Alckmin só não venceu no Rio de Janeiro. E em nenhuma parte Lula chegou na frente com tão esmagadora vantagem como no Amazonas (12º mais baixo IDH do País) e no Maranhão (27º e último). Em resumo, pode-se dizer que Alckmin ganhou no Brasil que sustenta o governo federal e perdeu no Brasil que é sustentado pelo governo federal. No eleitorado do Brasil desenvolvido calaram fundo os dois eventos singulares que ao fim e ao cabo privaram o presidente do êxito definitivo que lhe parecia plenamente assegurado. Foram a sua ausência no debate da Rede Globo e o aparecimento na mídia das fotos do dinheiro que serviria para comprar o suposto dossiê antitucano, que a todo custo o Planalto tentou esconder.
No primeiro caso, Lula foi punido pela soberba. Contra o conselho dos mais próximos interlocutores, ele decidiu não enfrentar os seus adversários no grande momento da competição eleitoral. Confiando cegamente que, agisse como agisse, a maioria absoluta dos votos não lhe faltaria, ele subestimou o impacto da imagem da cadeira vazia, sobretudo nos telejornais do dia seguinte. Diziam os gregos que os deuses cegam aqueles a quem querem destruir. Mas a cegueira de Lula advém do fato de ele não conhecer os brasileiros tanto quanto imagina, notadamente os que não se deixam enganar pela sua retórica primária. Mesmo entre os seus correligionários e aliados, decerto não foram raros os que se decepcionaram com a sua recusa em participar de um evento político que a sociedade inteira considera essencial. A cadeira vazia simbolizou, assim, a arrogância que o fez garantir que iria “matar” a eleição domingo.
No segundo caso, Lula foi atingido pela notória propensão de seus companheiros do PT para a delinqüência política. Nada tendo aprendido com o mensalão, talvez porque poucos pagaram pelo crime e o presidente recobrou a popularidade que parecia perdida em fins do ano passado, a “sofisticada organização criminosa” petista imaginou que também sairia impune do golpe sujo contra o ex-ministro da Saúde e candidato ao governo paulista, José Serra, que armou em conluio com os chefes da máfia dos sanguessugas. Revelada a torpeza, Lula tentou em vão controlar os danos. Cobriu de impropérios os seus autores em público e tratou de impedir, nos bastidores, a veiculação das fotos da prova viva do escândalo. O fracasso da operação-abafa reavivou para muitos a já quase apagada memória do mensalão - ajudando a quebrar a safra reeleitoral do presidente. Agora, no que depender da oposição, a baixaria continuará assombrando a sua campanha até a enésima hora.
Um dos critérios para avaliar a robustez de uma democracia é a incerteza dos resultados eleitorais. A incerteza atesta a independência do eleitor e a diversidade de questões que ele leva em conta ao votar - geradora de surpresas, como o triunfo do petista Jaques Wagner na Bahia, em pleno feudo carlista, e a vitória de Yeda Crusius, com a exclusão do governador Germano Rigotto do segundo turno no Rio Grande do Sul. A cada eleição, o eleitorado dá provas de amadurecimento. Quanto mais vezes for chamado a se pronunciar, mais ele tenderá a usar a cabeça no dia D da digitação.
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