Comparação com FHC embute risco para Lula
O Estado de São Paulo
Opção por confrontar governo do antecessor alimenta polêmica sobre crescimento econômico que pode ser desfavorável para o petista
A arma mortífera do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, segundo ele mesmo, é comparar o seu governo com o de Fernando Henrique Cardoso. Mas FHC conseguiu ser reeleito no primeiro turno e Lula, que alega ter feito um governo melhor, não. Especialistas consultados pelo Estado se dividem: alguns acham que Lula deixou de ganhar no primeiro turno por conta dos escândalos na reta final; outros opinam que ele vai ao segundo turno por não ter apostado numa agenda de crescimento.
Os dois governos, FHC e Lula, têm uma marca comum: ambos se esmeraram em manter a estabilidade econômica e promoveram pouco crescimento. Na média, Lula ganha por fração - 2,76% contra 2,57% -, mas o governo FHC ganha na comparação do crescimento brasileiro com o mundial e dos países emergentes. 'O Brasil não decolou no governo Lula por excesso de zelo no controle da política monetária', diz o economista Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP. Para ele, estabilidade era novidade em 1998, mas não é mais em 2006. 'Todo mundo quer estabilidade, mas com crescimento', comenta.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) discorda e responde com algumas conquistas que ele realça no governo Lula - houve crescimento do emprego, da massa salarial e do acesso de pessoas de baixa renda ao crédito, além da redução do custo da cesta básica. Ele admite que o Brasil cresceu menos do que poderia ter crescido, mas argumenta que o indicador mais consistente do governo Lula é a redução da pobreza.
SEM CRISE
Lula teve uma vantagem que FHC não pôde desfrutar, registra o cientista político Bolívar Lamounier: 'Foram quatro anos sem nenhuma crise econômica. E mesmo assim ele teve medo de baixar os juros. FHC não teve isso em seu primeiro governo', assinala. Bolívar lembra que FHC enfrentou a crise do México, que explodiu pouco antes de sua posse, e depois, sucessivamente, as crises da Ásia e da Rússia, ambas encaixadas no roteiro das eleições de 1998.
Ele destaca que, ao enfrentar as crises, FHC criou condições objetivas para a estabilidade, o que lhe deu a popularidade que desaguou na reeleição. Mas a seqüência das crises e algumas medidas incompletas - como a privatização parcial do setor de energia - acabaram comprometendo seu segundo mandato, fazendo-o completar o oitavo ano de governo com um crescimento pífio de 0,13%, o que minou a sua popularidade. Lula fecha, não o segundo, mas o primeiro governo com níveis claudicantes de crescimento.
Mas FHC teve duas vantagens, diz o historiador José de Souza Martins, da USP: conseguiu organizar o País, que vinha de um impeachment e de um governo transitório, e administrou três crises internacionais. Martins destaca que ele foi ajudado pelo radicalismo que marcava, à época, as propostas de Lula, e que o petista amenizaria em 2002. Ele afirma que o povo não captava a gravidade das crises internacionais, mas postou-se contra o governo FHC quando sobreveio a crise de energia e faltou luz em casa.
Já o vice-governador eleito de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), acha que o grande diferencial entre o primeiro governo FHC e o governo Lula é o nível de decomposição política do segundo. 'O governo FHC tinha consistência política', opina Goldman, lembrando que o arco de aliados era bem mais amplo que o governo Lula. Ele lembra também que agora Lula perdeu em todo o Centro-Sul, enquanto em 1998 FHC perdeu apenas no Rio Grande do Sul.
MELHORES CONDIÇÕES
E, no entanto, as condições objetivas de que Lula dispunha agora eram melhores que as de FHC em 1998 para vencer no primeiro turno, salienta Márcia Cavallari, diretora do Ibope. Ela considera que a derrota de Lula se explica pelos fatores da reta final: a eclosão do escândalo do dossiê Vedoin, a decisão errada de não ir ao debate e, por último, a divulgação da foto do dinheiro que seria usado na compra do dossiê.
Ela computa os dados e lembra que FHC chegou às eleições com 40% de bom+ótimo, enquanto Lula agora tinha 44%. Ou seja, Fernando Henrique agregou mais 13 pontos porcentuais à sua avaliação positiva em 1998 e venceu no primeiro turno com 53,06% (Lula teve 31,71%); Lula, agora, agregou só 4,6 pontos, para chegar ao primeiro turno com 48,61% (Geraldo Alckmin teve 41,64%).
Opção por confrontar governo do antecessor alimenta polêmica sobre crescimento econômico que pode ser desfavorável para o petista
A arma mortífera do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, segundo ele mesmo, é comparar o seu governo com o de Fernando Henrique Cardoso. Mas FHC conseguiu ser reeleito no primeiro turno e Lula, que alega ter feito um governo melhor, não. Especialistas consultados pelo Estado se dividem: alguns acham que Lula deixou de ganhar no primeiro turno por conta dos escândalos na reta final; outros opinam que ele vai ao segundo turno por não ter apostado numa agenda de crescimento.
Os dois governos, FHC e Lula, têm uma marca comum: ambos se esmeraram em manter a estabilidade econômica e promoveram pouco crescimento. Na média, Lula ganha por fração - 2,76% contra 2,57% -, mas o governo FHC ganha na comparação do crescimento brasileiro com o mundial e dos países emergentes. 'O Brasil não decolou no governo Lula por excesso de zelo no controle da política monetária', diz o economista Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP. Para ele, estabilidade era novidade em 1998, mas não é mais em 2006. 'Todo mundo quer estabilidade, mas com crescimento', comenta.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) discorda e responde com algumas conquistas que ele realça no governo Lula - houve crescimento do emprego, da massa salarial e do acesso de pessoas de baixa renda ao crédito, além da redução do custo da cesta básica. Ele admite que o Brasil cresceu menos do que poderia ter crescido, mas argumenta que o indicador mais consistente do governo Lula é a redução da pobreza.
SEM CRISE
Lula teve uma vantagem que FHC não pôde desfrutar, registra o cientista político Bolívar Lamounier: 'Foram quatro anos sem nenhuma crise econômica. E mesmo assim ele teve medo de baixar os juros. FHC não teve isso em seu primeiro governo', assinala. Bolívar lembra que FHC enfrentou a crise do México, que explodiu pouco antes de sua posse, e depois, sucessivamente, as crises da Ásia e da Rússia, ambas encaixadas no roteiro das eleições de 1998.
Ele destaca que, ao enfrentar as crises, FHC criou condições objetivas para a estabilidade, o que lhe deu a popularidade que desaguou na reeleição. Mas a seqüência das crises e algumas medidas incompletas - como a privatização parcial do setor de energia - acabaram comprometendo seu segundo mandato, fazendo-o completar o oitavo ano de governo com um crescimento pífio de 0,13%, o que minou a sua popularidade. Lula fecha, não o segundo, mas o primeiro governo com níveis claudicantes de crescimento.
Mas FHC teve duas vantagens, diz o historiador José de Souza Martins, da USP: conseguiu organizar o País, que vinha de um impeachment e de um governo transitório, e administrou três crises internacionais. Martins destaca que ele foi ajudado pelo radicalismo que marcava, à época, as propostas de Lula, e que o petista amenizaria em 2002. Ele afirma que o povo não captava a gravidade das crises internacionais, mas postou-se contra o governo FHC quando sobreveio a crise de energia e faltou luz em casa.
Já o vice-governador eleito de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), acha que o grande diferencial entre o primeiro governo FHC e o governo Lula é o nível de decomposição política do segundo. 'O governo FHC tinha consistência política', opina Goldman, lembrando que o arco de aliados era bem mais amplo que o governo Lula. Ele lembra também que agora Lula perdeu em todo o Centro-Sul, enquanto em 1998 FHC perdeu apenas no Rio Grande do Sul.
MELHORES CONDIÇÕES
E, no entanto, as condições objetivas de que Lula dispunha agora eram melhores que as de FHC em 1998 para vencer no primeiro turno, salienta Márcia Cavallari, diretora do Ibope. Ela considera que a derrota de Lula se explica pelos fatores da reta final: a eclosão do escândalo do dossiê Vedoin, a decisão errada de não ir ao debate e, por último, a divulgação da foto do dinheiro que seria usado na compra do dossiê.
Ela computa os dados e lembra que FHC chegou às eleições com 40% de bom+ótimo, enquanto Lula agora tinha 44%. Ou seja, Fernando Henrique agregou mais 13 pontos porcentuais à sua avaliação positiva em 1998 e venceu no primeiro turno com 53,06% (Lula teve 31,71%); Lula, agora, agregou só 4,6 pontos, para chegar ao primeiro turno com 48,61% (Geraldo Alckmin teve 41,64%).
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