terça-feira, setembro 05, 2006

Delírio Chavista

O Globo
Se alguém tinha alguma dúvida sobre o que pensa da democracia o presidente da Venezuela, Hugo Cháves, não há mais de ter após suas declarações de sábado. Com todas as letras, Cháves disse que convocará um referendo em 2010 (ele dá por certa a sua vitória nas eleições de 3 de dezembro) para estabelecer a reeleição sem limites, o que permitiria sua perpetuação no poder.

O líder venezuelano pretende assim manipular instrumentos democrático para acabar com a democracia no país. O primeiro instrumento será o próximo pleito presidencial. Em seguida, a prerrogativa constitucional de convocar referendos capazes de produzir terremotos institucionais.

Cháves acaba de voltar de uma visita a Fidel Castro - que por sinal está há 47 anos no poder - quando deu a conhecer seus planos. Ele não quer se perpetuar por um motivo qualquer: trata-se, segundo ele, de consolidar a República Socialista Bolivariana, essa proposta rala de conteúdo mas repleta de marketing populista e autoritário.
O que Cháves chamou de "diretrizes na nova fase revolucionária" contém pérolas que se julgavam restritas a regimes alucinados e felizmente extintos, como o do Khmer Rougee, no Camboja, ou ainda vigentes, como o de Kim Jong-il, na Coréia do Norte. Pois Cháves vislumbra no horizonte da Venezuela "uma nova ética socialista" e "a suprema felicidade social". Ou, ainda, “a democracia revolucionária, onde o poder do povo seja o máximo poder da República". Desde, é claro, que esteja de acordo com o dele.

Apesar de tudo o que Cháves já fez para destruir as instituições venezuelanas, algumas ainda estão de pé e podem reagir para conter a fúria personalista do presidente. Também é o caso de os chavistas, mesmo entre as camadas mais pobres e beneficiárias de seus programas assistenciais, se perguntarem se vão querer seu benfeitor por todo o sempre à frente do país.
Como a Venezuela ganhou a condição de membro pleno do Mercosul, o organismo tem a encruzilhada pela frente: fazer cumprir a cláusula democrática, que afasta membros que se desviam, ou tornar-se conivente com o mais sibilino dos golpes - aquele que usa mecanismos supostamente democráticos para perpetuar alguém no poder.

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